terça-feira, 12 de julho de 2011

Frios

Pois é.. Frio é bom mesmo. Especialmente quando você está dentro do seu quarto, deitado na sua caminha, debaixo de seus cobertorzinhos, depois de ter tomado um copo de leite quentinho. Porém, enquanto isso, moradores de rua tentam sobreviver a outra noite dormindo sobre jornais, ingerindo álcool em excesso para amenizar o frio e, com sorte, com a companhia de um cachorro para enfrentarem juntos a madrugada. Acontece que nem sempre esses mendigos chegam a levantar-se na manhã seguinte. É, a realidade é tão fria quanto essa época do ano.

Humanitário

Costumávamos usar este termo em situações de em que se colocava em prática a solidariedade, o altruísmo.
Porém, alguns atos ignorantes e frequentes do ser humano, desde os mais explícitos, como genocídios, até os mais ocultos - mas não inofensivos - , como racismo e homofobia, nos fazem refletir - ou deveriam - sobre o seu real significado.
Guardadas as honrosas exceções, hoje, são antônimos.
Um dia, quem sabe, poderemos usar o termo "ato humanitário" como um sinônimo de "ato filantrópico", mas, por enquanto, somos obrigados a buscar por outras palavras com o mesmo sentido, que estão cada vez mais escassas no vocabulário "humano".

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Uma das melhores

Fui me deitar para dormir há duas horas. Sempre demoro bastante tempo até dormir. Quando me deito, meus pensamentos surgem de todos os cantos da cabeça, e ficam lá, de um lado pro outro, se embaralhando e trazendo consigo, como enganchados, outros pensamentos ariscos. É por culpa deles que muitas vezes custo duas horas para finalmente dormir. Mas esta noite, especialmente, eles me serviram de algo a mais. Enquanto tentava organizá-los, acabei me deparando com uma memória que estava bem guardadinha, há muito tempo. Essa memória era uma crônica. Uma das melhores crônicas que já li. Me lembrava da história, mas não o seu título, tampouco o autor. Fiquei inquieto, precisava lê-la novamente, revivê-la. Busquei-a, esperançoso, num livro de crônicas, mas não achei. É pra isso que serve o Google; achei na internet em três minutos. Como sempre, me emocionei com esta crônica, e gostaria de reproduzi-la aqui :


A última crônica


Fernando Sabino


   A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

   Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

   Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

   São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
   Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Rascunhos

Tenho o receio de parecer meio autista escrevendo todas essas linhas aqui, pois provavelmente apenas uma ou outra pessoa as lerão ( um amigo, ou minha mãe, quem sabe ). Me sinto como no tuiter, só quem bem menos fútil hahahah.
Enfim, esse blog não terá finalidade específica. O que provavelmente postarei aqui serão meros relatos, crônicas talvez, reflexões; não usarei o termo 'epifanias', acho que seria exagerado uma vez que a maior parte do conteúdo será simples e leigo. Devo estar sendo humilde demais com tudo isso, mas eu não me sentiria confortável dando muita margem à conclusões alheias de que sou pré-potente, ou  de que me considero o dono da verdade. O principal proveito que tenho nesse canal é a própria atividade de escrever, processo importantíssimo na produção de conhecimento, que requer treino. Treinando, é exatamente isso que estou fazendo, como um bom pré-vestibulando, portanto é muito mais de utilidade pessoal do que pública. Afinal, se eu quisesse polêmica e público, criaria um vlog, não um blog. (:

Mais difícil do que parece

Sob influência e a exemplo de amigos que criaram os seus, a ideia de criar meu próprio blog formigava em minha cabeça há tempos, e numa noite de grandissíssima inspiração - até porque, geralmente, minha preguiça e inércia nessas situações são igualmente grandes- , decidi finalmente criá-lo. Porém, depois de realizar o cadastro no site, me deparo com um grande problema : o nome do blog. Eu já achava que começar o cadastro do site já era uma grande iniciativa por minha parte, e quando me vi obrigado a pensar num nome adequado, disse " ah, depois eu penso nisso"- afinal, eu tinha coisa muito mais importante a se fazer, como qualquer jovem recém-formado no ensino médio em meio a suas férias 'infinitas'-  e assim, a criação do blog foi adiada. Ficou à espera de uma outra noite (madrugada) inspirada, e parece que ela chegou, enfim, impulsionada pela leitura de uma postagem ( e ótima, por sinal ) no blog de um amigo. De modo que novamente me encontrei no impasse da intitulação. Desta vez não cedi; pensei, refleti, repensei, matutei.. e eu acho que saiu. Não fiquei por inteiro contente com o resultado, muito embora penso que raramente fica-se inteiramente satisfeito com algum produto de própria autoria. Não sou um seguidor de blogs, vez em tempos dou olhada em randômicos de alguns conhecidos, e não sei se é normal uma postagem de introdução, como esta. De qualquer modo, fui eu quem me dediquei ao grandioso, complexo e penoso processo acima descrito de dar vida a um blog. Portanto ele é meu,eu faço com ele o que eu quiser, e ninguém manda em mim. Quanto aos assuntos que serão abordados no blog, deixo para um outro post, esse já está grande demais. Espero criar o hábito de me 'inspirar' mais frequentemente para mantê-lo vivo. (: