domingo, 18 de março de 2012

O vestibulando

19/01/2012

Simplesmente, não é justo.
 
   Talvez, por ter ouvido essa palavra, o vestibular, durante um considerável período da minha escolaridade, eu tenha me acostumado ao que ela significa e representa. Como se ela fizesse parte de um conjunto de leis naturais da vida : o vestibular existe, sempre existiu e - por que não ? - sempre existirá. E, no meu pensamento, ficávamos por aqui mesmo. Até esse ano.
 
   Em 2011, entrei num mundo que talvez não exista em muitos outros lugares, construído entre os enormes rombos entre os pilares estruturais do sistema educacional brasileiro: o mundo do Cursinho. Conheci um material direcionado, professores experts em vestibular, e estudantes dedicados. Aliás, mais do que isso, dedicadíssimos.
 
   Dedicados a ponto se 'sacrificarem' uma parte do horário de almoço no trabalho para estudar; de lerem no ônibus até cansarem as vistas ou se enjoarem durante a viagem; de deixarem de ir em festas e aniversários porque no dia seguinte fariam um simulado importante. Vi salas e mais salas cheias de jovens assim, conscientes de que era necessário esforço pra conseguir a vaga nas melhores faculdades. Porém, nem mesmo o mais esforçado tem uma garantia para o dia da prova.
 
  Teoricamente, o princípio do vestibular é selecionar os concorrentes considerados aptos a cursar o ensino superior. Contudo, espera-se do estudante que ele seja capaz de expor seu conhecimento escolar, adquirido ao longo de 11 anos de sua vida e formação, em uma prova de 5h. Mais de uma década resumida em um cartãozinho com 90 bolinhas pintadas à caneta. Espera-se que todos os candidatos estejam imunes à qualquer adversidade na hora, como alguma doença, ou ao próprio nervosismo, dado que muitas vezes o jovem é levado a pensar que o futuro sua vida inteira depende daquilo e daquela vaga. Esses e muitos outros fatores impedem a escolha de quem realmente está pronto ao invés da escolha de pessoas que sabem lidar melhor com o emocional, ou dos que simplesmente não pegaram uma virose ou não tiveram uma cólica no dia.
 
  Mas o mais frustrante é saber que muitos desses jovens com os quais compartilhei essa etapa, apesar de terem mostrado que são capazes e que são totalmente preparados para um curso superior, não conseguem a vaga. São jovens que querem aprender, que querem qualificação, que querem trabalhar, e pessoas assim deveriam ser tratadas como a maior riqueza de qualquer país do mundo.

  O que falta para o Brasil finalmente deixar de ser o eterno 'país do futuro' não é a vontade desses jovens. O que falta é estrutura, vagas, escolas, qualidade, educação, tudo aquilo que fica em segundo plano aqui. Espero que um dia essa não seja a realidade de cada ano de milhares de jovens que, assim como eu, só querem conhecimento.
 
   Por enquanto, ver seu nome naquela lista de aprovados é a realização de um sonho, quando deveria ser um direito. E isso não é justo, simplesmente.

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