domingo, 18 de março de 2012

Todo carnaval tem sua oração

25 de fevereiro de 2012

Levando as minhas malas pro carro pra viagem do feriado, bem na frente da minha garagem, vi uma mãe e uma filha andando em direção à portaria do condomínio. Com uma mala numa das mãos e um travesseiro na outra, a filha se despediu da mãe, que parou no meio do caminho enquanto via a moça de vinte e tantos anos se distanciar aos pouquinhos.

- Quando chegar, me liga !
- Tá, tá, mas eu acho que não vai ter sinal ! - veio a resposta despreocupada.

A mãe, que continuava parada no meio da rua, na minha frente, por um segundo tirou os olhos da viajante e tomou o caminho contrário, de volta pra casa. Só dois passos, e deu meia-volta, como se tivesse esquecido de algo. Verificou se a filha não podia vê-la e, de olhos fechados, juntou as mãos na frente do rosto, cobrindo a grande parte da boca que murmurava uma oração, como se sentisse vergonha de que ouvissem as preocupações de uma mãe-coruja. Tão rápido quanto durou a oração, ela entrou em casa.
Mas acho que a prece, tão pura que parecia, acabou por escapar pelos cantos da boca, porque senti chegarem em mim, ameaçando plantar um pouquinho de fé nesse cérebro agnóstico. E parece que deu certo. Quando dei por mim, estava sorrindo, improvisando um sinal da cruz, e pensando com meu cérebro-agora-menos-agnóstico se os pedidos daquela mãe chegariam a alguém.

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